Em novembro de 1893, Daniel Paul Schreber, recém-nomeado juiz-presidente da Suprema Corte da Saxônia, esteve à beira de um surto psicótico e foi internado numa clínica psiquiátrica de Leipzig. Passaria o resto do século XIX em instituições para doentes mentais. Ao receber alta, publicou suas "Memórias de um doente dos nervos" (1903). O famoso estudo de Freud sobre Schreber elevou as "Memórias" à categoria de mais importante texto psiquiátrico sobre a paranóia. Valendo-se com originalidade de textos de Benjamin, Foucault, Canetti, Hoffmann e Kafka - além do estudo de Freud -, o autor nega que o sistema delirante de Schreber tivesse prefigurado uma solução totalitária para a crise estrutural definidora da modernidade.