Site 100%Seguro

    0
  • Thumbnail 1
  • Thumbnail 2
  • Thumbnail 3
  • Thumbnail 4
  • Thumbnail 5
  • Thumbnail 6
Aurora

Aurora

Colaboradores: Kezia Caetano
Avaliação:
R$ 84,90 á vista

Em até 4 de 21.23 s/juros

Quantidade:
Código: 9786559883615
Categoria: Literatura
Compartilhe:

Descrição Saiba mais informações

Não consigo ouvir o som dos meus passos enquanto caminho em direção à morte.

É esquisito, considerando que, poucas horas atrás, era exatamente o contrário disso o que me aborrecia. Eu havia calçado as sandálias de borracha da minha mãe porque acabaram sendo a melhor opção depois que perdi meu único par de sapatos; só que eram muito velhas e faziam um barulho odioso, como se chapinhassem em poças d’água cada vez que eu pisava. Mas agora que a cabine com isolamento acústico as deixou silenciosas, confesso que preferia ouvir aquele chapinhar ao som descompassado da minha respiração.

Não é engraçado como o que nos incomoda pode se tornar irrelevante diante de algo pior?

Antes que eu tenha a chance de zombar da ironia na reflexão, uma voz feminina e mecânica reverbera, cortando o silêncio da câmara de extermínio com a mesma sentença que ouvi nos alto-falantes da praça, logo antes de ser arrastada até aqui:

Dos inimigos da paz e segurança social, que se rebelam contra a Armada que nos mantém a salvo do vírus e unidos como nação, decretamos a execução de Helsye Agris, da família de Ayah, por ataque violento e inescrupuloso à família de um agente da segurança pública de Kyresia.

Eu só acho que “ataque violento e inescrupuloso” foi um pouco de exagero. O que aconteceu na verdade foi que um garoto idiota — e, provavelmente, bêbado — tentou me beijar à força na noite anterior durante a Festa dos Sobreviventes. Uma celebração popular no país. A música estava alta, eu me empanturrava com tudo que conseguia estocar no estômago depois de quase dois dias sem comer, e ele se aproximou sem que eu percebesse. Senti o azedo do álcool assim que o verme abriu a boca e se jogou em cima de mim. Então, logo em seguida, ele acabou com o nariz levemente…

Quebrado.

Pelo menos foi um soco extremamente satisfatório. Juro, meu cotovelo estava em um ângulo perfeito. Meu punho cerrado na medida certa. Eu o acertei com força suficiente para fazê-lo cambalear para trás como se estivesse em câmera lenta. A liberação de raiva eletrizou todo o meu corpo, e eu ainda esboçava um sorrisinho quando ele se levantou e disse:

Você está morta.

E não é que estava falando sério?

— Coloque o braço no local indicado — diz outra vez a voz robótica, me trazendo de volta ao presente.

Tenho um espasmo quando algo pontiagudo perfura minha pele e encaro meu reflexo distorcido na parede metálica enquanto espero. Minha cor parece acinzentada por causa da iluminação bruxuleante das lâmpadas, e as tranças no meu cabelo estão frouxas devido à delicadeza com que fui trazida pelos Exatores, como são chamados os soldados da Armada kyresiana.

Não sei dizer quanto tempo se passou desde que a porta foi fechada até que eu terminasse de percorrer o corredor sinuoso e chegasse ao orifício na parede. O isolamento acústico absorveu o som dos meus passos e me fez perder a noção do tempo. Estar em silêncio absoluto, ouvindo apenas a minha respiração e as batidas do meu coração, é como um prenúncio da agonia que está por vir.

Enquanto observo minha imagem no reflexo, sozinha nesse corredor, minha ficha começa a cair aos poucos. Tento pensar em algo positivo, em alguma piadinha, porque foi assim que sobrevivi nessa droga de realidade, mas não sobrou mais nada. Vou mesmo morrer.

E minha vida foi um desperdício.

— O vírus no seu organismo começará a fazer efeito em cinco minutos — continua a voz mecânica. — Siga em frente e abra a porta. Nunca olhe para cima.

Sorrio com a idiotice do lema da Armada: Não olhe para cima. Para mim, soa como “Não espere por coisas melhores. Não questione as injustiças ou as decisões de quem é superior a você. Porque você é um nada para o governo”.

Que baboseira infernal.

O caminho agora se torna um pouco mais difícil. Minhas pernas parecem pesadas, e eu mal sustento o peso do meu corpo. Começo a me sentir claustrofóbica no túnel, minha respiração acelera, minha visão foca e desfoca. Aperto os lábios ao chegar diante da porta e decido acabar logo com isso.

Fecho os olhos. Seguro a respiração. Giro a maçaneta.

E o cheiro de morte é a primeira coisa que sinto.

Páginas384
Data de publicação18/11/2024
Formato20.5 x 13.6 x 1.82
Largura13.6
Comprimento20.5
AcabamentoBrochura
Lombada1.82
Altura1.8
Tipopbook
Número da edição1
Classificações BISACFIC042100; YAF051030
Classificações THEMAYFK; FLP
Idiomapor
Peso0.405
Loading...


Midias Sociais

Categoria

    Conteúdo

    Fale Conosco

    ATENDIMENTO AO CLIENTE

    TELEFONE


    E-MAIL


    Midias Sociais

    © 2025 | , - - CNPJ: Todos os direitos reservados.
    Esse site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e Termos de Serviço do Google se aplicam.
    Desenvolvido porKonekta
    Meu carrinho×
    Seu carrinho está vazioNavegue pelas categorias de livros e adicione os títulos desejados ao seu carrinho de compras.