"Agora que o mundo está ainda mais dilacerado por novos conflitos e hostilidades inusitadas, torna-se urgente fazer alguma coisa útil. Criou-se uma nova ruptura, profunda demais, entre o mundo ocidental, orgulhoso de seu suposto pragmatismo, e o mundo muçulmano, que, que finalmente desperto, tem a coragem de se manifestar. Seria apenas uma divergência de interesses? Não, o problema é maior, muito maior..." quando se pensa que essas palavras foram escritas por Roberto Rossellini em 1976, pouco antes de sua morte, é difícil não sentir arrepios. Já se vão quase dez anos desde que o grande mestre do neorrealismo italiano abandonou a indústria do cinema tradicional para se dedicar a um empreendimento não menos ambiciosa: um imenso projeto de filmes históricos para a televisão, com o propósito de percorrer novamente o itinerário do homem desde a pré-história até a conquista do espaço. (...) Islã é o projeto para uma série televisiva dedicada à cultura e ao mundo muçulmano que, infelizmente, jamais viu a luz. São setenta fichas simplesmente brilhantes, e até agora inéditas, conservadas no arquivo pessoal de seu filho Renzo, e que parecem hoje dramaticamente atuais. Rossellini parece intuir o perigo de um embate de civilizações e teoriza a necessidade de um conhecimento das riquíssimas raízes da cultura árabe e de sua profunda relação com a cultura ocidental. Um raciocínio cristalino que revela não apenas a erudição, mas também a incrível capacidade de intuição de seu espírito: "Qualquer coisa pode acontecer. Mas para nos odiarmos bem, ou para nos destruirmos bem, ou para nos suportarmos bem, ou para colaborarmos bem, teremos, de toda forma, de nos conhecermos bem".