Em Tensões criativas da revolução, Álvaro García Linera se debruça sobre as contradições que movimentam o processo político boliviano. Considerado um dos mais importantes pensadores marxistas latino-americanos da atualidade, Linera reivindica o legado dos clássicos do materialismo-histórico dialético, sem tratá-los como dogmas ou cânones, além de enriquecer a reflexão com base na experiência própria da Bolívia. Dessa forma, Linera se insere na tradição dos marxistas, iniciada por José Carlos Mariátegui, que pensam a América Latina considerando suas especificidades e características, sem enquadrá-la em esquemas mecânicos ou importados, ao mesmo tempo em que utilizam o método materialista-histórico dialético como ferramenta de análise de interpretação da realidade. Tensões criativas é uma reflexão sobre o processo político iniciado com a vitória de Evo Morales, como parte da onda progressista que viveu nosso continente nos anos 2000, identificando cinco fases nessa trajetória: a crise do Estado; o “empate catastrófico”; a capacidade de mobilização convertida em presença estatal governamental; um momento de bifurcação, chamado de “momento jacobino da revolução” e, por fim, a fase atual na qual emergem essas tensões criativas. Porém, de forma alguma se trata de um simples registro documental com riscos de se tornar datado.

Ao contrário, ao tratar do caso boliviano, Linera elenca tensões que podem ser encontradas em experiências de governos populares, como a relação entre Estado e movimentos populares; as contradições entre os interesses gerais frente aos interesses particulares e a construção da hegemonia pelo núcleo social desse governo. Diante das contradições, Linera não busca harmonizá-las, sufocá-las ou suprimi-las.